sábado, 19 de setembro de 2009

Abate Humanitário de Animais

Rildo Silveira Carvalho
Natural de Cruzília, MG, professor da Rede Municipal de Ensino de Caxambu, MG e Personal Trainner. Formado em Educação Física pela Unincor de Caxambu e Pós-Graduado em Fisiologia e Nutrição Esportiva pela Unincor de Três Corações.
Vegetariano há 18 anos e palestrante sobre o tema.
e:mail: rildosilveira@yahoo.com.br



Abate humanitário pode ser definido como o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos animais destinados ao consumo, desde o embarque na propriedade rural até a operação de sangria no matadouro-frigorífico.
Conceito esse, definido e estampado exclusivamente sob a ótica do lucro.
Tal processo envolve cuidados específicos no embarque, transporte, desembarque no abatedouro, acondicionamento nos galpões de espera, descanso e dieta hídrica, banho de aspersão, condução até a linha de abate, o atordoamento ou insensibilização e finalmente a sangria dos animais.
No transporte, o stress pode provocar contusões e morte.
As contusões afetam a qualidade da carcaça e a privação de alimento e água conduzem à perda de peso do animal.
O stress físico ocasiona a depleção do glicogênio muscular, resultando numa carne dura e escura.
Todos esses fatores afetam o bem estar do animal, mas é um pretexto para encobrir o mal estar daqueles que tiram vantagem do abate de animais: a perda econômica.
O descanso ou dieta hídrica é o tempo necessário para que os animais se recuperem totalmente das perturbações surgidas pelo deslocamento desde o local de origem até ao estabelecimento de abate.
Torna-se interessante o animal readquirir sua normalidade fisiológica, reduzir o conteúdo gástrico para facilitar a evisceração da carcaça e restabelecer as reservas de glicogênio muscular. Estando eles descansados, fornecem uma carne melhor, mais lucrativa, deixando aqueles que tiram vantagens do abate, mais calmos também.
O banho de aspersão foi adotado em substituição ao banho de imersão, evitando deslizamento ou quedas, não danificando a carcaça. As contusões devem ser mínimas, não por causa do animal, mas por melhorar a qualidade final do produto e gerando melhor economia.
A condução até a linha de abate deve ser executada de maneira menos estressante possível. As linhas de condução possuem a forma circular, facilitando sua locomoção uma vez que estes não conseguirão enxergar o que os está esperando à sua frente, avançando com mais facilidade.
São evitados o uso de porretes e objetos pontiagudos, que poderão danificar a carne, o couro e o lucro.
O atordoamento ou insensibilização, conforme o animal é feito por pistola pneumática de penetração, corte da medula ou choupeamento, eletronarcose, processos químicos e algumas vezes, marreta. Instrumentos esses, classificados como "humanitários"...
Finalmente a sangria, realizada pela abertura sagital da barbela com uma ou duas facas. Devido ao pH alto e ao grande teor protéico, o sangue tem uma rápida putrefação. Logo, a capacidade de conservação da carne mal sangrada é muito limitada. Além disso, constitui um problema de aspecto para o consumidor. Portanto, a eficiência da sangria é considerada uma exigência importante das operações de abate para obtenção de um produto de alta qualidade, com preços superiores.
O termo “abate humanitário” é uma bravata verbal criada por aqueles que lucram com essa prática.
É um discurso que expressa a preocupação com o bem-estar do animal, mas que na verdade esconde um sistema cujo único propósito é a economia, através de menores prejuízos.
A preocupação não é com o bem estar do animal, e sim com o maior retorno financeiro que deverá surgir em decorrência das menores perdas durante as operações de abate dos animais e a melhora na qualidade final do produto.
Como os eventos que se sucedem desde a propriedade rural até o abate do animal tinham grande influência na qualidade da carne e no seu preço final, implantaram uma operação tecnológica de alto nível científico, uma cientificidade para matar.
O termo "abate", significa o ato ou efeito de abater animais para o consumo.
O termo "humanitário" significa bondoso, benfeitor, aquele que é humano, que ama.
Abater e amar. Dois termos antagônicos para tentar justificar a industrialização da morte.
Ao tentar minimizar a transgressão pelo assassinato de milhões de animais, estamos desensibilizando as pessoas no tocante ao valor da vida, como se ao reduzir o sofrimento, nos isentamos de culpa.
Poderíamos então, dessa forma, criar a “pena de morte humanitária”.
Será ainda humanitarismo os animais nos matadouros cheirar, ouvir e, muitas vezes, ver o abate dos outros animais que estão à frente deles?
Estabeleceram o termo "carne ética" evitando proferirem "morte ética". E sendo o abate humanitário e a morte ética, porque não estampar as fotos internas dos matadouros nas embalagens? E alguém teria coragem de assistir ao abate industrial em série, ainda que dito "humanitário"?
Pressupõe-se, dessa forma, que os animais sejam “produtos” eticamente aceitáveis.
Criar animais para alimento, independente do rótulo, continua sendo uma atividade prejudicial ao meio-ambiente e um desperdício de alimentos que poderiam ser usados diretamente pelos seres humanos, a um preço muito menor que sua carne.
A criação de animais cuja única finalidade é a matança, ultraja as pessoas em sua dignidade, sendo cruel e extraindo todo o humanismo daqueles envolvidos, tanto no processo de produção quanto no de consumo.
Temos um caminho inteligente a seguir, o de racionalizar e nos tornarmos vegetarianos.
Ou banalizar e chamar a morte de “limpa”, mesmo sabendo do sofrimento de um animal para ser nossa vítima, as condições as quais nasceu, foi criado e abatido.
Ao desconsiderarmos tudo isso, estamos sendo indignos em nossa condição de humanos.
Morte “limpa” é uma fantasmagoria pregada por aqueles interessados em continuar essas práticas hediondas e lucrativas.
Os animais têm consciência da vida e por conseqüência, da morte também.
E os que afirmam o contrário, provavelmente não terão ambos.
O sistema capitalista atropela boa parte das pessoas e procura impor-nos um modo de vida padronizado, baseando e direcionado-nos ao consumismo. Desse modo, propuseram esse antagonismo esdrúxulo, o “abate humanitário de animais”, esperando que não reflitamos e, consequentemente, os empresários ávidos pelo lucro dessas práticas, não sejam questionados.
Esse mesmo capitalismo avassalador fomenta igualmente os meios de comunicação hoje em dia que pouca ou nenhuma crítica fazem aos assuntos relacionados à matança de animais. Comportam-se alheios e estáticos ao sofrimento deles, aos danos causados pelo consumo de carne, como doenças, escassez de água, poluição e a derrubada de nossas últimas florestas para a formação de pastagens e produção de grãos exclusivamente para alimentação animal.
Ao lobby dessa carnificina, interessa apenas que a população se torne mais alienada, de forma a não cobrarem as conseqüências dos animais serem continuamente explorados e tratados como máquinas, sem direito à defesa e dando cada vez mais, lucro a eles. Se essas verdades vierem a público, serão eles, e não a humanidade, que passarão fome.
Podemos, como fantoches, nos refugiar no comodismo da ignorância. Ou podemos, como verdadeiros seres humanos, refletir, exprimindo nossa vontade própria. Temos de impor nossa coragem dizendo a essas pessoas, que abate humanitário é o mesmo antagonismo que subir pra baixo. Ou descer pra cima, se eles assim preferirem.
Desejo um dia, que possamos integrar uma civilização menos mesquinha e mais altruísta. E se tivermos que ter nossas consciências manipuladas, que seja para difundir esses ideais de liberdade para todas as criaturas do mundo.
Um abraço, realmente humanitário, a todos.

2 comentários:

wanessa disse...

muito inteligente cada palavra sua meus parabens

Kátia Coutinho disse...

Abate e humanitário são duas palavras cujos conceitos confrontam-se.Abater significa descencilhar-se de algo, no caso dos animais significa matar. Matar para vender aos que comem carne e lucrar.
Humanitário, significa ser coerente com valores éticos, morais, afetivos, sociais...e por aí vai.
Difícil é ser tão ignorante e alienado para não perceber a hipocrisia de tal procedimento. Parabéns ao autor, ao publicante e tomara que as pessoas se percebam co-responsáveis com a crueldade ao comprarem e comerem. Kátia