terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre Agrofloresta

SOBRE AGROFLORESTA E SISTEMA AGROSILVOPASTORIL

“ A FLORESTA ANTECEDE OS POVOS E O DESERTO OS SEGUE." (François Chateaubriand -1768 – 1848)

O que é Sistema Agroflorestal (SAF)?

É uma prática antiga que já foi muito utilizada por comunidades tradicionais em várias partes do mundo, e na Ásia e América do Sul há mais de mil anos. A definição adotada pelo “International Center for Research in Agroforesty (ICRAF) é o mesmo adotado pelo código Florestal Brasileiro: “Sistema Agroflorestal é um nome coletivo para sistemas e tecnologias de uso da terra com cultivares agrícolas e/ou animais em alguma forma de arranjo espacial e sequência temporal”- Resolução da Secretaria do Meio Ambiente (SMA)-44, de 30-06-2008, Resolução CONAMA 369/2006.

Podem ser sistemas simples como o consórcio de espécies agrícolas com arbóreas de pouca diversidade de espécies e mais complexos como ecossistemas florestais com dinâmica e diversidade similar às florestas naturais, com uma determinada porcentagem de exóticas, cujo objetivo é restaurar a vida no local, sendo este sistema o de maiores chances de apresentar bons resultados.

A restauração de ecossistemas degradados vem tomando crescente importância diante de um quadro de crise ambiental cada vez mais drástico, afetando a qualidade de vida de TODAS as comunidades de vida deste maravilhoso e maltratado planeta. A derrubada das florestas para o domínio das monoculturas e pastagens deixando o solo nu, exposto a intenso processo erosivo, zonas ripárias sem vegetação provocando assoreamento dos rios e lagos, pequenos fragmentos florestais isolados e permanentemente perturbados pelas atividades humanas, são modelo insustentável com graves conseqüências ambientais cada vez mais intensas: a erosão, e a desertificação como uma das principais causas do aquecimento global: retém o calor, a absorção da água pelo solo é mínima e a evaporação altíssima sem retenção da umidade e nenhuma captura de CO².

Desde o início da história das civilizações, quando os povos começaram a utilizar a madeira para construções habitacionais e náuticas, para forjar metais e outros fins, a floresta representava abundância, desenvolvimento e poder. Com a extinção das florestas e solos exauridos, a constante ameaça da fome levou impérios ao declínio, como por exemplo Roma no séc.IV d.C., que era financiada pela prata extraída na Espanha, cuja fundição sacrificou enormes reservas florestais ibéricas... E qualquer um com um mínimo de bom senso pode ver que a humanidade não se cansa de repetir os mesmos erros, principalmente nesse país, onde se retorna com força total ao mesmo modelo predador e insustentável do período colonial: enormes monoculturas apenas com o fim de exportação e lucro sem o mínimo respeito a o que resta de importantes ecossitemas e da nossa preciosa biodiversidade.

Independente do que vier a ser decidido no novo Código Florestal, reflorestar com ou sem obrigatoriedade, recuperar áreas degradadas e improdutivas por meio do sistema de agrofloresta, imitando a sucessão natural num processo mais acelerado, tem mostrado excelentes resultados, reduzindo custos com compensação financeira a curto e médio prazo através de seus produtos agrícolas e florestais orgânicos e saudáveis, formando um agroecossistema sustentável, nas pequenas propriedades rurais, já difundido por todo o país, embora de maneira pontual.

Percebe-se, entre os proprietários rurais, uma relutância em deixar ou manter áreas florestadas, áreas de APP, mesmo que somente para fornecer sombra e abrigo aos seus animais e proteção aos mananciais, porque acreditam estar perdendo áreas produtivas. Para estes, uma alternativa inteligente a ser adotada é o sistema agrosilvopastoril onde se combinam no mesmo espaço plantas forrageiras (gramíneas) e leguminosas (rasteiras e arbustivas) e árvores junto com a produção agrícola e pecuária produzindo alimentos, água, serviços ambientais e energia de biomassa. Os poucos a introduzir esse sistema parecem bem satisfeitos, ao contrário do que afirmam alguns que acreditam ser inviável porque acham que se trata de plantar “dentro” de florestas e não em consórcio com estas.

A utilização de árvores junto aos cultivares agrícolas e/ou pastagens, tem a função estratégica de: reduzir a insolação direta sobre o solo protegendo sua vida biológica e aumentando sua diversidade; proteger do impacto direto das gotas de chuva sobre o solo que causam compactação e erosão e auxiliar na infiltração da água para o subsolo alimentando os lençóis freáticos; trazer para a superfície nutrientes das camadas mais profundas; reduzir o efeito negativo do vento que leva embora a umidade, portanto reter a umidade; promover constantemente matéria orgânica no solo, tornando desnecessária a utilização de adubação química; adicionar nitrogênio por fixação biológica e finalmente promover a biodiversidade devolvendo vida para o local, objetivo principal deste sistema.

Para quem quer ir mais fundo, “Apostila do Educador Agroflorestal”– Projeto Arboreto/Parque Zoobotânico/ Universidade Federal do Acre – PENEIREIRO, Fabiana Mongeli et al.

Site: www.agrofloresta.net

http://agroflorestador.blogspot.com

Sabina T. Cseri – Técnica em Gestão Ambiental

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