quarta-feira, 21 de abril de 2010

Seja feita a vontade de Deus - aos olhos de um Budista

Antes de mais nada, que se esclareça que há Budistas que acreditam em Deus e os há que não acreditam.

Acredito no poder do amor e do conhecimento que unidos, aprendi a chamar de Sabedoria.

No Budismo aprendi que ao querermos o que não temos, ou a querermos nos livrar do que temos contra a vontade, sofremos.

Há a dor física e há a dor mental e há também as duas juntas. Querendo nos libertar do sofrer, podemos começar a nos libertar das dores mentais. As há oriundas do querer e do rejeitar e as há também oriundas da moralidade ferida, o que ocorre quando ferimos a alguém e nos damos conta do que fizemos. Mas não vou adentrar na dor moral, ao menos no momento. Vou falar mais da dor do querer e não ter e da dor do ter e rejeitar. Principalmente, por ora, vou falar da dor do querer e não ter. Senão, vejamos.

Os olhos vêem algo e como consequência disso, surge a consciência visual. Os processos mentais analisam o que é visto e então esse algo é classificado como belo, feio ou indiferente. A seguir, surge o desejo de se ter, se rejeitar esse algo. Pode surgir também um estado de indiferença quando esse algo não se encaixa como desejável ou rejeitável, caindo na classificação de indiferente. O mesmo se dá com o que os ouvidos percebem, com o que a pele percebe, com o que a língua percebe. Assim, surgem os desejos e rejeições puramente materiais. No entanto, há mais.

Temos a capacidade de percebermos pensamentos, sentimentos, poesia, beleza e feiura mentais às quais qualificamos como espirituais, como coisas d'alma.

Ao percebermos belezas espirituais em uma outra pessoa, surge o desejo de as termos. Queremos ter o outro. Quanto mais beleza espiritual vemos no outro, mais o/a desejamos. Desejar e não ter é sofrer!

Há ainda o amor. Amar é diferente de querer ter. Amar é querer que o outro seja feliz. Apaixonados, queremos ser felizes ao lado do outro/a. Amando, o/a queremos feliz.

Querer e não ter, como já disse acima, é sofrer. Ninguém gosta de sofrer.

Siddhatha Gotama, o Buda, nos deixou instruções que nos libertam do sofrer quando praticadas e antes de adentrar neste tema ocorre-me nosso velho e ocidental "seja o que Deus quiser"

Ao entrarmos em meditação, nos abstemoos de interferir diretamente. Ou seja, se estamos fazendo meditação por estarmos sofrendo e meditar alivia o sofrimento, isso não quer dizer que nossos desejos serão satisfeitos e sim que estamos doando nossa energia a Ele (isso para quem acredita em Deus) e então as coisas começam a acontecer de acordo com a vontade Dele. Em certas situações, a vida é mais fácil para quem acredita em Deus. Em outras, para quem acredita Nele sem que O compreenda, a vida é uma tortura infernal...

Bem, mas o que nos ensinou o Buda que pode nos ajudar a nos libertarmos do sofrer quando queremos ou rejeitamos algo?

Primeiramente o Buda nos aponta para que percebamos que tudo apresenta três características: 1- Impermanência, 2- Sofrimento, 3 - Impessoalidade.

Ao meditarmos observamos diversos fenômenos e todos eles estão imbuidos de impermanência, sofrimento e impessoalidade. Como assim? Vejamos.

Buda nasceu e viveu em uma região culturalmente muito desenvolvida para a época no norte da Índia e lá surgiu sua escola. No entanto, pessoas de outros países iam à Índia para aprender Budismo e levavam esse conhecimento para seus países. Isto fez surgir três escolas budistas principais, a Theravada - nativa da Índia, o Zen - nativo da China e o Budismo Tibetano. Note-se que todas as três escolas budistas ensinam basicamente a mesma coisa, ou seja, o caminho para a libertação do sofrimento que é o caminho para a Felicidade. Ensinam ainda as causas do sofrimento: egoísmo, ignorância e violência e dão o antídoto para a cura dessas causas do sofrer que são a Generosidade, a Sabedoria e a Moralidade, sendo a Generosidade a mais importante.

Na escola tibetana há uma triadição que também existe a seu modo no Brasil. Lá se constroem mandalas lindas e trabalhosas que em um dia festivo são destruídas. Aqui no Brasil há algo parecido em algumas cidades de tradição católica nas quais as ruas são pintadas com pétalas de flores e outros materiais que serão a dado momento destruídos pelos passantes. Nestas ocasiões experimentamos o ensinamento espiritual da impermanência, ou seja, tudo se acaba.

O conhecimento desta prática me inspira a que façamos de nossos relacionamentos amorosos uma bela mandala que um dia será desfeita, já que na melhor das hipóteses, um dia um dos cônjuges falecerá...Então, que essa vida a dois seja linda, ao menos, já que impermanente....

Voltando-se à meditação como instrumento para superarmos o sofrimento, vejamos: Estamos sofrendo de desejo por ter juinto de nós a quem amamos e que por indizíveis razões está distante. Está-se a sofrer! Ora, nossa atenção está voltada para a imagem que nossa mente tem dessa pessoa. Com a atenção nessa imagem surge o desejo. Não a temos, sofremos! Se, ao contrário, a atenção for deslocada para o fluxo de ar que passa pelo nariz, passa a surgir a percepção da sensação do ar tocando a mucosa do nariz. Enquanto a atenção for alí mantida, cessa a percepção da imagem mental da pessoa amada e desejada, cessa o sofrimento. Mantendo-se a atenção no fluxo de ar, surgem outros fenômenos. Veja que tudo se resume a fenômenos físicos, químicos, mentais, todos eles impregnados das três características: Impermanência, Sofrimento e Impessoalidade. Por quê impessoalidade? Porque são fenômenos frutos da física, da química, da matemática, da cibernética...

Continuando-se a manter a atenção no fluxo de ar, percebe-se já de pronto um relaxamento da musculatura esquelética. A respiração, conscientizada, melhora, se modifica. Um estado espiritual diferente, livre de cobiça, de ódio, de ignorância começa a se estabelecer. Ficamos mais felizes e podem observar, esse estado de bem estar passa a ser compartilhado por outros seres também, particularmente aaueles com os quais nos relacionamos, com aqueles com os quais temos vínculos afetivos.

Aqui, aqueles que não acreditam em Deus podem perceber como algumas coisas funcioam...Com esta prática, passa-se a caminhar ao conhecimento do que é Ele.

Contou-me um Budista que certa vez um homem mutio bom faleceu e por mérito adquirido através de inúmerás boas ações foi viver no Paraíso onde Ele vive. Viu muita gente boa lá e depois de algum tempo perguntou a um veterano do Paraíso: por favor, diga-me, afinal, aonde Ele está? Ao que lhe foi respondido, olhe para dentro de ti....

Comentários, críticas e perguntas podem me ajudar a refazer este texto de forma mais didática. Simtam-se à vontade. Escrevam.

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